segunda-feira, 27 de junho de 2011

REPORTAGEM - REVISTA NOVA ESCOLA

"Essencial num mundo globalizado, um bom ensino de Língua Estrangeira na rede pública requer foco na formação dos professores"

Durante muito tempo, vigorou na sociedade a noção de que "pobre não precisa estudar outros idiomas porque nunca irá para o exterior". De forma um pouco mais velada, essa perspectiva respingou até mesmo nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que defendem a aquisição das habilidades de leitura como foco da disciplina. O inglês - Língua Estrangeira mais ensinada nas séries finais do Ensino Fundamental - tornou-se assim, uma espécie de patinho feio do currículo. As décadas de descaso cobram seu preço nos rankings de proficiência em inglês. Em um dos mais recentes, organizado pela rede de ensino de idiomas Education First Brasil aparece em 31º lugar entre 44 nações.
Aceitar esse tipo de concepção é comprar uma visão estreita do ensino de idiomas: a ideia de que se aprende uma língua apenas por sua utilidade, quando ela possibilita muito mais - ampliar horizontes, mergulhar numa nova cultura e refletir sobre a própria identidade. O argumento elitista se derrete num cenário em que as possibilidades de comunicação com o mundo colocam a oralidade e a escrita no mesmo grau de importância da leitura. Esse novo contexto, entretanto, parece muito distante da realidade das escolas brasileira onde temos falhado em oferecer até o mínimo essencial. Parte do problema repousa na falta de profissionais qualificados. De acordo com um levantamento do Conselho Nacional de Educação (CNE), há o déficit de 47,6 mil professores da disciplina nas séries finais do Ensino Fundamental. E, dos que estão nas salas, menos de um terço tem formação específica.
O drama aumenta quando se percebe que mesmo os formalmente habilitados são, muita uma svezes, despreparados. O livro Inglês em Escolas Públicas Funciona? traz depoimentos impressionantes sobre o tema. "Ao assumir turma de língua inglesa em uma escola estadual, meus alunos me contaram que haviam aprendido a contar até 10 e que a professora anterior dissera que iria aprender a contar até 20 para, depois, ensinar a eles", relata Vera Lúcia de Menezes Oliveira e Paiva, docente da Universidade Federal de Minas Gerais. Também formadora de professores, Adelaide Pereira de Oliveira, da Universidade Federal da Bahia, relembra o tempo em que cursava Letras, quando a maioria de seus colegas não falava inglês e saía da universidade sabendo quase nada. "Hoje, como docente, ainda vejo a mesma coisa acontecer" afirma.

CONVÊNIOS COM CENTROS DE IDIOMA NÃO RESOLVEM A QUESTÃO

Por onde atacar o problema? Alguns especialistas defendem a inclusão da disciplina já nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Por enquanto, não há a compravação suficiente de que a medida possa alterar o quadro. Outra alternativa, os convênios com centros de idiomas, dificilmente terá escala suficiente para atender as maiores redes. Pior ainda é a mensagem que essa opção passa: a admissão quase explícita de que é impossível ensinar inglês nas escolas públicas. Ainda que isoladas, experiências de sucesso em estados e municípios provam o contrário. E nunca é demais lembrar que a falta da qaulidade atinge também as instituições privadas.
Uma solução duradoura passa necessariamente pelo investimento na formação inicial e continuada, fundamental para operar uma transformação num ensino ainda excessivamente calcado na fixação de estruturas gramaticais e na tradução de textos. A disciplina ganharia muito se acolhesse a perspectiva do uso social da língua, mobilizando a turma para atividades em que aprender outro idioma é realmente necessário: a leitura das instruções de um game em inglês, a compreensão de uma canção, um chat com os alunos de uma escola norte-americana...Melhor ainda se o conjunto de propostas conjugar leituras e escrita, fala e audição.
A boa notícia é que, pela primeira vez desde sua criação, o Programa Nacional do Livro Didático vai distribuir em 2011 gratuitamente livros didáticos e CDs em inglês e espanhol, que não precisam ser devolvidos no fim do ano letivo. Isoladamente, a distribuição de livros didáticos nem arranha o problema. Mas não dixa de ser animador que os alunos possam desfrutar de um inédito conjunto de recursos para acompanhar as aulas e consultar autonomamente. O que se espera é que a iniciativa impulsione outras medidas também importantes, como o fortalecimento das bibliotecas escolares e, principalmente, os programs de formação de professores.




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